"Quando Karl Marx enunciou seu emblemático clamor pela união de todos os trabalhadores do mundo, avaliou com nítida precisão que as fronteiras podem ser uma conveniência para setores específicos da burguesia, mas são uma irrelevância para o sistema capitalista como um todo. A última coisa que Marx poderia esperar era que a classe trabalhadora fosse contemplada pela burguesia como um bode expiatório para os seus próprios fins, mas que para usufruí-lo ela tivesse que voltar a admitir que realmente façam sentido as linhas imaginárias das fronteiras nacionais. Ou seja, acreditar que pelo mero fato de atravessar uma alfândega portuária, legal ou ilegalmente, um ser humano deixa de ser gente e passa a ser coisa".
Nicolau Sevcenko, do
Prefácio ao livro
A Inexistência da Terra Firme. A Imigração Galega em São Paulo 1946-1964 [São Paulo, Edusp: 2002], de Elena Pájaro Peres, que também se abre com a seguinte magnífica citação de Guimarães Rosa:
"Ele não tinha ido a nenhuma parte. Só executava a invenção de se permanecer naqueles espaços do rio, de meio a meio, sempre dentro da canoa, para dela não saltar, nunca mais. A estranheza dessa verdade deu pra estarrecer a toda a gente. Aquilo que não havia, acontecia".
¶